Desabafo (muito) longo

O meu passado amoroso não é longo, mas passei por muita coisa. O meu ex-namorado magoou-me de uma maneira em que não consigo abrir o meu coração para mais ninguém. Ajo na defensiva. Não deixo que se aproximem demasiado. Não me quero magoar. Foram dois anos de namoro. Isolei-me dos meus pais, dos meus amigos. Vivia para ele. Deixei que ele me tratasse mal. Ofendia-me, tentou mudar a minha personalidade para o seu gosto. Humilhava-me à frente de todos porque na altura não sabia cozinhar. Deu-me por garantida. Era um menino da mamã. Queria uma segunda mãezinha que fizesse tudo em casa e que não tivesse vida própria. Não sei como aguentei tudo. Não tinha quase ninguém com quem contar. E preciso de deitar isto tudo cá para fora para ver se meto um ponto final nisto. Quero seguir com a minha vida para a frente. Mas de alguma maneira sinto-me presa. Apetecia-me dizer-lhe tudo na cara. Tudo o que ele me fez e que me destruiu a auto-estima. As ofensas, as humilhações, se eu prestasse mais atenção a um livro (eu adoro ler), para ele era “mandá-lo para o caralho”, só por isso. A partir do dia em que comecei a dizer que não, ele revelou-se ainda pior. Tinha medo dele. Não era violento fisicamente mas as palavras magoam muito mais que actos. Eu não aguentei muito tempo até a bolha rebentar. Ia acumulando merdas atrás de merdas até que um dia não aguentei. Mandou-me para o caralho, chama-me mimada e menina da mamã, porque eu disse que não ia cozinhar para ele, e ia passar o dia com a minha família. Hoje sei que não quero nada disso para mim. Nem o desejo a ninguém. Não voltarei a deixar que me tratem assim. Porque eu mereço alguém que me trate como deve ser, goste de mim como sou, que me aceite, pois o que eu tinha não era amor. Era uma ideia de amor. Quem ama não faz o que ele fez. Ama por inteiro. Quer o melhor para essa pessoa. E eu sou exigente. Posso ser tímida, não dou confiança facilmente a ninguém, e muito menos deixo que se aproximem. O meu coração está fechado para o amor. Não me sinto preparada emocionalmente para relações e muito menos coisas passageiras. Isso não é para mim. Preciso de alguém que me ame por inteiro e me queira fazer feliz. Sinto falta de estar apaixonada. Das borboletas na barriga. De saber que posso contar com aquela pessoa, os mimos e carinhos, os abraços apertados, ou um simples sorriso. De ver filmes com essa pessoa, viver com alguém que me respeite e me ajude, que me queira conhecer, que não me julgue, porque eu só mostro verdadeiramente como sou quando confio mesmo em alguém. A ideia que muitos têm de mim é o oposto do que sou. Julgam-me miúda, mimada, alguns pensam que sou burra (às vezes até posso fazer-me de burra mas não o sou). Posso parecer muita coisa. Mas a verdade é que não me conhecem. Sou uma Mulher com sentimentos, sensível, acho que sou culta, pelo menos os amigos verdadeiros dizem isso. Posso falar e falar sobre música, cinema, literatura, o que quer que seja, gosto sempre de aprender mais e mais. Se estou calada não quer dizer que esteja triste, às vezes gosto de estar no meu cantinho sossegada, a apreciar o silêncio, ou a pensar nalguma coisa. Tenho sonhos e projectos, coisas que me dão alegria, em breve vou conseguir ter o meu cantinho, as minhas coisinhas, ter um pouco mais de liberdade, dar asas à imaginação e decorar tudo ao meu gosto. Isso entusiasma-me. Dá-me forças. Poupei muito dinheiro para comprar as coisas para lá, e tenho muita sorte por ter os pais que tenho, dou imenso valor à família, que para mim é um pilar, a minha força. Os meus pais construíram uma casa a pensar nos filhos, eu vou aproveitar isso, pois não fico com dívidas a bancos nem pago renda. Tenho sorte. O meu irmão não a quis, e agora anda como anda. Somos o contrário um do outro. Eu sou poupada, ele gasta todo o dinheiro que tem. Eu penso no futuro, guardo sempre algum caso for preciso, ele não, pede dinheiro aos meus pais. Ainda com a idade que tem. É demasiado sonhador, não pensa muito nas coisas, eu sou mais terra a terra e muito racional. As coisas são como elas são. Já não tenho 15 anos. Tenho 21, e sou mais adulta que algumas pessoas. Tenho a cabeça no lugar. Sou responsável. A vida fez-me crescer. Vejo as coisas como são, há sempre dois lados, em mim o emocional contra racional. O racional sem dúvida que ganha. E até nem é mau. Guardo os sentimentos cá dentro, quem gostar de mim terá de lutar muito para obter a minha confiança. Não me contento com pouco. Não estou para aturar cachopos. Por isso até é uma coisa positiva. Evito magoar-me, mas vou seguindo a minha vida, fazendo as minhas coisas, o que eu quero, saio com as amigas, vou beber um café ou algo sozinha, isso não me incomoda. Gosto da minha companhia. Sinto-me bem comigo, sei o meu valor, conheço-me, e mais importante, respeito-me. Sou simples nalgumas coisas, complicada noutras, mas sou eu mesma. Quem não gostar tem bom remédio. Isto está um testamento, obrigada a quem conseguiu ler tudo, precisava mesmo disto.