Há dias assim

Em que nos falta a inspiração. Às vezes acontece. Ter ideias para escrever mas depois não chegam as palavras. Tenho andado um pouco distante. Estou cá mas a minha cabeça está noutro sítio. Ando pensativa, distraída. A pensar na minha vida, no que me faz falta, no que devo mudar, tudo e mais alguma coisa. Não é mentira que ando carente. Que sinto falta das borboletas na barriga. Mas também não faço por isso. O passado é passado, nem todos os homens são iguais. Criei um muro de protecção em que não deixo ninguém entrar. Só sei que ainda não consigo. Culpo o idiota que me magoou. Traiu-me, humilhou-me, ofendeu-me, queria que eu fosse uma segunda mãezinha, que fizesse tudo sem o questionar. Tentou mudar-me ao jeito dele. Na altura isolei-me tanto, não tinha quase ninguém em quem confiar, fui estúpida. Mas aprendi e muito com isso. Não quero alguém que me faça sentir mal comigo. Que não me aceite. Guardo rancor, é verdade. Não me esqueço do que passei. Depois de ter acabado ainda tentou que fosse amiga dele, veio cá três vezes, e em todas elas recebeu a mesma resposta. Não. Sei que tenho medo de me magoar. Preciso de largar o passado. Sou insegura. Desvalorizo-me um bocado. Mais do que devia. É um defeito. Aumentar a auto-estima é algo que demora, mas sem dúvida que não a tinha quando namorava. Já passei por uma depressão. Descobri que tinha mais força do que imaginava. Dia 23 faz dois meses que deixei os antidepressivos. Tenho uma espécie de diário onde escrevo algumas coisas, e cada vez que me sinto a fraquejar leio o que escrevi. Eu sei que tenho força, e sou parva por me desvalorizar. Não gosto de me sentir vulnerável, nem que me vejam assim. Evito o desconhecido. Tento seguir a vida da minha maneira, da maneira que sei, viver um dia de cada vez. Tentar ser melhor pessoa, principalmente para mim própria. Porque se eu não gostar de mim, quem gostará? Aceitar que tenho defeitos e qualidades, uns bons outros maus, tenho altos e baixos, mas quem não os tem? A vida é para ser vivida. Há dias assim.